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Qual o papel dos fungos na microbiota intestinal?



A microbiota humana consiste em bactérias, archaea, vírus e fungos que participam de uma rede altamente complexa de interações entre si e o hospedeiro. Embora existam muitos exemplos de influência bacteriana na saúde do hospedeiro e na modulação imunológica, pouco ainda se sabe sobre o papel dos fungos comensais dentro dessa comunidade intestinal.


Até pouco tempo, a pesquisa se concentrava em doenças oportunistas causadas por espécies fúngicas, deixando o possível papel dos fungos como parte da microbiota extremamente incerta. Curiosamente, a abundância de fungos e bactérias no intestino parece estar negativamente correlacionada, e quando ocorre uma ruptura no equilíbrio da microbiota bacteriana parece haver uma facilitação para o super crescimento fúngico. Os mecanismos por trás da resistência à colonização bacteriana são provavelmente diversos, incluindo antagonismo direto também como estimulação bacteriana dos mecanismos de defesa do hospedeiro. Apesar de uma literatura ainda menos robusta, sabe-se que os fungos também apresentam papel importante no desenvolvimento do sistema imunológico.


Embora a quantidade de bactérias seja realmente maior que a de fungos, é preciso levar em consideração também a diferença de tamanho e volume entre eles. Estima-se que o tamanho médio de uma bactéria em relação a uma célula de levedura seria comparável a um humano perto de um elefante. Além disso, fungos podem preencher um nicho único produzindo metabólitos específicos para fungos. Estudos mais recentes analisando o microbioma identificaram 66 gêneros de fungos presentes em amostras de fezes humanas das quais Saccharomyces, Candida e Cladosporium foram os gêneros mais abundantes.


Alguns Saccharomyces são comumente encontrados em frutas, especialmente uvas, nas quais S. cerevisiae fermenta açúcares se a casca for danificada. Essa capacidade de fermentação tem sido explorada pelo homem para a produção de pães e bebidas alcoólicas. Devido ao seu nicho natural em frutas e seu amplo uso na produção de alimentos, não é de surpreender que essa levedura seja introduzida frequentemente no trato GI humano. S. cerevisiae, como outros fungos ambientais, sobrevive passando pelo trato GI. Devido à sua utilização generalizada e segura, a S. cerevisiae foi considerada até mesmo como um probiótico. Outra levedura também já utilizada comercialmente como probiótico é a S. boulardii.


Embora várias espécies do gênero Candida sejam geralmente aceitas como verdadeiros fungos simbióticos intestinais, C. albicans é o fungo mais frequentemente detectado nas fezes de humanos saudáveis. Os fungos podem colonizar vários locais do corpo além do intestino (por exemplo, boca, pele, vagina) e pode disseminar-se do intestino humano pela corrente sanguínea, nos casos de leaky gut, e chegar a órgãos internos quadros de infecção. As infecções disseminadas por Candida geralmente ocorrem em indivíduos com sistema imunológico debilitado, como pacientes transplantados ou com câncer em quimioterapia.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pérez JC. Fungi of the human gut microbiota: Roles and significance. Int J Med Microbiol. 2021 Apr;311(3):151490. doi: 10.1016/j.ijmm.2021.151490. Epub 2021 Feb 25. PMID: 33676239.


Kapitan M, Niemiec MJ, Steimle A, Frick JS, Jacobsen ID. Fungi as Part of the Microbiota and Interactions with Intestinal Bacteria. Curr Top Microbiol Immunol. 2019;422:265-301. doi: 10.1007/82_2018_117. PMID: 30062595


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