Compreender como a microbiota intestinal humana pode influenciar o envelhecimento é um desafio. A microbiota intestinal é uma ecologia extremamente complexa de organismos que varia muito com os indivíduos e com o tempo, tornando as mudanças relacionadas à idade difíceis de medir. No entanto, populações idosas e mais jovens mostram diferenças na composição da microbiota intestinal A questão-chave é se essas diferenças podem influenciar o envelhecimento e como afetam esse processo?
O estudo em modelo animal permite que esta questão seja analisada. Análises longitudinais na mosca da fruta Drosophila melanogaster mostram que mudanças na composição microbiana precedem o envelhecimento intestinal e do hospedeiro. Microrganismos de camundongos velhos, mas não jovens, induzem inflamação quando adicionados a camundongos livres de germes (germ free). Esses estudos implicam amplas classes de bactérias, particularmente membros do filo Proteobacteria, como impulsionadores do envelhecimento em um loop de alimentação com degradação e inflamação intestinal. Transferir esse entendimento para a microbiota humana é desafiador, mas auxilia a desvendar como a manipulação da microbiota intestinal pode ser um caminho para manter a saúde na velhice.
Em geral, a microbiota intestinal em idosos torna-se mais diversificada e variável com o avançar da idade. Por exemplo, as três famílias bacterianas na microbiota central, Bacteroidaceae, Prevotellaceae e Ruminococcuceae, tornam-se menos abundantes em faixas etárias mais avançadas, em torno de 60 a 70 anos, enquanto certas espécies associadas à saúde tornam-se mais abundantes em faixas etárias bastante avançadas, incluindo centenários (105-109 anos).
Certas mudanças na composição e diversidade estão associadas à idade biológica ou funcional, independente da idade cronológica. Várias medidas de fragilidade têm sido usadas como indicadores da idade biológica, e a composição da microbiota intestinal está associada à idade biológica. Além disso, a diversidade microbiana intestinal se correlaciona inversamente com a idade biológica, mas não com a idade cronológica. Portanto, à medida que a idade biológica aumenta, a riqueza geral da microbiota intestinal diminui, e podem surgir alguns microrganismos associados ao envelhecimento não saudável.
À medida que a idade biológica aumenta, a relação homeostática entre a microbiota intestinal e o hospedeiro se deteriora, pois há redução na diversidade microbiana, especialmente após os 50 anos de idade. Essas alterações disbióticas no intestino envelhecido podem anular os efeitos benéficos do microbioma intestinal nas vias de sinalização de nutrientes e provocar quadros inflamatórios e algumas condições patológicas. A disbiose intestinal também pode perturbar a comunicação entre a microbiota intestinal e o hospedeiro por meio de várias biomoléculas, vias de sinalização e mecanismos epigenéticos, afetando a saúde e a longevidade do hospedeiro. Muitos trabalhos têm mostrado uma correlação entre a composição da microbiota intestinal e o desempenho cognitivo, fragilidade e comorbidade do idoso. Diante dessa perspectiva, a modulação do intestino, por meio especialmente do consumo de fibras na dieta, pode facilitar o processo de envelhecimento não patológico reduzindo a progressão dos mecanismos degenerativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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