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Faecalibacterium prausnitzii: o que ela tem de tão especial?



A Faecalibacterium prausnitzii é uma das bactérias anaeróbias mais abundantes na microbiota intestinal humana, consideradas como um microrganismo comensal. Sua proporção é de aproximadamente 5-15% da população total. Essa abundância nos mostra que essa espécie é um membro de extrema importância para a microbiota, impactando na fisiologia e na saúde do hospedeiro.


Dessa forma, a abundância relativa dessa bactéria funciona como um biomarcador de saúde geral em humanos, justificado pela manutenção da homeostase e pelas propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias, além da sua relação com distúrbios gastrointestinais, diabetes mellitus tipo 2 e doenças neurodegenerativas.


F.prausnitzii como produtora de energia e imunomoduladora

A produção de energia e de metabólitos anti-inflamatórios são alguns dos papéis mais importantes dessa bactéria. F.prausnitzii. Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) são os principais produtos finais do processo de fermentação que ocorre no cólon. Através do acetato, a F.prausnitzii produz butirato, que serve como fonte de energia para os colonócitos e também medeia os efeitos anti-inflamatórios.


Com relação aos mecanismos anti-inflamatórios, a Faecalibacterium prausnitzii inibe a produção de citocinas pró-inflamatórias, como interferon-gama (IFN- γ), fator de necrose tumoral-α (TNFα), interleucina-8 (IL-8), IL-6 e IL-12. Além disso, essa bactéria tem a capacidade de secretar ácido salicílico com potencial efeito anti-inflamatório.


F.prausnitzii nos distúrbios gastrointestinais.

A população de Faecalibacterium prausnitzii diminui em casos de doenças inflamatórias intestinais (DII), como a doença de Crohn, mas não de retocolite ulcerativa servindo como um indicador de saúde intestinal. O seu efeito anti-inflamatório demonstrado por essa bactéria na DII envolve diminuição de IL-12 (citocina pró-inflamatória) e o aumento da proporção de IL-10 (citocina anti-inflamatória).


Outro possível benefício protetor contra o desenvolvimento de colite ulcerativa envolve a produção de uma proteína chamada MAM por parte dessa bactéria, com potencial efeito de inibir a via de NF-kB nas células epiteliais e de manter a adesão celular e assim manter a integridade da barreira intestinal.


A redução de F.prausnitzii também está relacionada com o aumento dos sintomas de síndrome do intestino irritável (SII). Essa bactéria influencia nesses quadros pela habilidade de reduzir a hipersensibilidade visceral através da melhora da integridade da barreira intestinal pela produção de muco.


F.prausnitzii na Diabetes Mellitus tipo 2.

A Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) induz alterações na composição da microbiota intestinal, sendo observado uma menor prevalência de F.prausnitzii em indivíduos diabéticos. Esse quadro de disbiose altera a estrutura e a função da barreira intestinal, promovendo a absorção tanto de patógenos quanto de toxinas presentes no lúmen, induzindo um processo inflamatório e resistência à insulina.


Por outro lado, a Faecalibacterium prausnitzii regula a adesão das células e a via de junção apertada, fundamentais para a integridade da barreira intestinal. Essa regulação ocorre por meio da MAM, proteína citada anteriormente. Uma dieta com baixo teor de gordura e alto teor de carboidratos complexos aumentam a abundância dessa bactéria, melhorando assim a sensibilidade à insulina.


F.prausnitzii nas doenças neurodegenerativas.

O eixo intestino-cérebro nos mostra o impacto da microbiota intestinal na saúde cerebral. Alguns distúrbios como Doença de Alzheimer (DA) e Parkinson (DP) podem estar associados com quadros de disbiose.

A diminuição de F.prausnitzii na DA aumenta o acúmulo cerebral de ß-amilóide, substâncias tóxicas para os neurónios e que destroem as sinapses. Enquanto isso, na DP, mesmo não sabendo o mecanismo exato, é possível observar uma menor prevalência dessa bactéria, enfraquecendo o muco intestinal e deixando o sistema nervoso mais suscetíveis a patógenos e à inflamação.


Resumindo…

De forma resumida, o que torna essa bactéria tão especial é a sua capacidade de interferir na saúde do hospedeiro, através da produção de butirato como fonte de energia e seu potencial efeito anti-inflamatório, além de servir como indicador de diversas condições patológicas.



Referências: LEYLABADLO, Hamed Ebrahimzadeh et al. The critical role of Faecalibacterium prausnitzii in human health: an overview. Microbial Pathogenesis, [S.L.], v. 149, p. 104344, dez. 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.micpath.2020.104344.

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