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Foto do escritorKarina Al Assal

Existe relação entre autismo e microbiota intestinal?





Durante muitos anos, as pesquisas em torno do Transtorno do Espectro Autista (TEA) giravam em torno de questões genéticas e comportamentais apenas, mas hoje já se sabe que fatores ambientais e condições alimentares estão associados ao TEA. Isso porque o nosso cérebro se comunica de maneira bidirecional com o nosso intestino, o que quer dizer que o nosso comportamento altera a nossa microbiota intestinal e vice-versa.


Alterações gastrointestinais como constipação, dor abdominal, diarreia, gases, refluxos e vômitos são sintomas comuns em indivíduos portadores de TEA. Como a microbiota representa um importante fator ambiental que exerce influência sobre o espectro autista, quando há desequilíbrios na microbiota, esses sintomas gastrointestinais podem aparecer ou piorar.


Esse desequilíbrio é chamado de disbiose, que causa uma inflamação na mucosa intestinal, o que gera aumento na permeabilidade da barreira intestinal em pessoas com TEA. Essa permeabilidade gera uma elevada absorção das moléculas neurotóxicas produzidas pela microbiota, causando uma alteração neurológica, que está relacionada à maior gravidade dos sintomas no autismo.


Por isso, usar estratégias para modular a microbiota intestinal é uma estratégia importante para melhorar os sintomas gastrointestinais e comportamentais em pessoas com autismo. E umas das maneiras de fazer essa modulação é incluir a dietoterapia no tratamento, considerando não apenas a doença mas todas as condições em que se encontra o indivíduo.


Uma boa alimentação irá ajudar no tratamento da destoxificação intestinal e consequentemente na disbiose. Além disso, o intestino pode ser considerado uma glândula endócrina, pois ali ocorre a produção de diversos entero-hormônios, com atuação inclusive no sistema nervoso central (SNC).


Uma das estratégias usadas na dietoterapia é não consumir alimentos que possuem glúten como farinha de trigo, centeio e cevada, e alimentos fontes de caseína, encontrada no leite e seus derivados. Essas proteínas parecem intensificar os sintomas do espectro autista, e quando eles são retirados da dieta esses indivíduos geralmente apresentam mudança no comportamento, ficam mais calmos e ocorre melhora da atenção e concentração. Isso ocorre porque grande parte dos autistas apresentam uma deficiência enzimática que inibe a digestão completa dessas proteínas, o que agrava a disbiose intestinal.


Outra intervenção dietética para normalizar o funcionamento do intestino e promover o equilíbrio da microbiota intestinal é o consumo de alimentos fontes de prebióticos como banana, maçã, aveia, semente de linhaça, alho, entre outros alimentos.


Os autistas têm um hábito alimentar restrito, e são muito resistentes à introdução de novos alimentos na dieta. Mesmo com essas limitações procure estimular o consumo da maior variedade de alimentos in natura e minimamente processados e retirar da dieta produtos industrializados.


Estudos demonstram que existe uma boa relação da intervenção dietética com melhoras comportamentais, incluindo os mecanismos de comunicação, uso da linguagem, atenção e concentração. Ou seja, a adesão dietética pode ser benéfica, mesmo que em níveis diferentes para cada indivíduo, podendo apresentar uma melhora na qualidade de vida de forma geral.


Se quiser ler mais sobre esse assunto, indico esses artigos:


  • Zhang M, Chu Y, Meng Q et al. A quasi-paired cohort strategy reveals the impaired detoxifying function of microbes in the gut of autistic children. Sci. Adv. 2020; 6 : eaba3760


  • Piwowarczyk A, Horvath A, Pisula E, Kawa R, Szajewska H. Gluten-Free Diet in Children with Autism Spectrum Disorders: A Randomized, Controlled, Single-Blinded Trial. J Autism Dev Disord. 2020 Feb;50(2):482-490. doi: 10.1007/s10803-019-04266-9. PMID: 31659595.


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