A intolerância à histamina, também conhecida como histaminose enteral ou sensibilidade à histamina dietética, pode ser definida como um distúrbio decorrente da redução da capacidade de degradação da histamina no intestino devido à atividade prejudicada da enzima diamina oxidase (DAO), levando ao seu acúmulo no plasma e ao aparecimento de efeitos adversos.
A enzima DAO foi identificada pela primeira vez em 1929 por Charles H. Best em tecido pulmonar autolisante, que ele chamou de histaminase por causa de sua capacidade de degradar a histamina. Anos mais tarde, dada a sua capacidade de também degradar outras diaminas, essa enzima passou a ser chamada de DAO. Além de seu papel na degradação intestinal da histamina em humanos, a DAO também está presente em microrganismos, plantas e animais, onde catalisa a desaminação oxidativa do grupo amino primário da histamina em seu aldeído correspondente, produzindo concomitantemente amônia e peróxido de hidrogênio.
As manifestações mais frequentes são gastrointestinais, com distensão abdominal observada em 92% dos pacientes e plenitude pós-prandial, diarreia, dor abdominal e constipação em 55-73% deles. Distúrbios dos sistemas nervoso e cardiovascular, como tonturas, dores de cabeça e palpitações, foram registrados em segundo lugar, seguidos por sintomas respiratórios e dermatológicos. Destacando a complexidade do quadro clínico de intolerância à histamina, combinações de três ou mais sintomas envolvendo diferentes órgãos foram registradas em 97% dos casos, com média de 11 sintomas por paciente.
Essas reações de descarboxilação têm sido descritas como uma estratégia de sobrevivência para microrganismos em ambientes ácidos, bem como uma fonte alternativa de energia metabólica em situações de disponibilidade de substrato. Esta atividade enzimática em bactérias é uma propriedade cepa-dependente. Várias bactérias Gram-positivas e Gram-negativas responsáveis por processos fermentativos em alimentos são capazes de produzir histamina. Especificamente, as Enterobacteriaceae. As espécies Hafnai aluei, Morganella morganii e Klebsiella pneumonia foram identificadas como algumas das bactérias formadoras de histamina que mais se proliferam em peixes, por exemplo.
Os alimentos que potencialmente contém altos níveis de histamina são aqueles que tem maior risco de alteração microbiológica, como peixe e carne, por serem alimentos frescos com elevada atividade de água e pH favorável, ou produtos derivados que possam ter sido conservados ou processados em condições higiênico sanitárias inadequadas; ou ainda produtos fermentados, nos quais as bactérias responsáveis pela fermentação também tenham capacidade aminogênica.
A deficiência de DAO pode ser uma condição temporária e reversível, causada pelo efeito de substâncias como aminas biogênicas e álcool,e outras drogas. Estima-se que cerca de 20% da população europeia toma regularmente medicamentos inibidores da DAO, o que aumenta significativamente o número de pessoas suscetíveis aos efeitos adversos da histamina dietética.
A intoxicação por histamina é um quadro mais grave, e pode ocorrer após o consumo de alimentos com um teor de histamina extraordinariamente alto que supera a capacidade orgânica de degradação (geralmente superior a 500 mg/kg).
Uma dieta pobre em histamina ou isenta de histamina tem sido proposta como a principal estratégia para a prevenção e tratamento da intolerância à histamina. Conceitualmente, essas dietas excluem uma série de alimentos que os pacientes associam ao início dos sintomas, principalmente aqueles que podem conter altos níveis de histamina. No entanto, não há uma única recomendação dietética de uma dieta baixa em histamina, mas existem recomendações comuns em diversos dados da literatura científica, que excluem os alimentos abaixo:
Leite
Marisco
Queijo curado e semicurado
Lentilhas Ovos Queijo ralado
Grão de bico
Derivados de soja fermentados
Peixes gordurosos
Berinjela
Cogumelos
Abacate
Produtos de carne (seca e fermentada)
Espinafre
Tomate
Kiwi
Repolho fermentado
Ameixa
Nozes
Morangos
Vinho
Chocolate
Cerveja
Semelhante ao tratamento atual para intolerância à lactose, a possibilidade de suplementação oral com a DAO exógena foi proposta por vários autores para facilitar a degradação da histamina dietética. Melhorar a atividade intestinal da DAO permitiria uma dieta menos restritiva, que poderia incluir alimentos com uma dose tolerável de histamina. Neste contexto, desde 2017, a Comissão Europeia permite a comercialização de DAO como suplemento ou como alimento para fins medicinais especiais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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