Qual é a primeira coisa que vem a sua mente quando pensa em envelhecimento? É possível que, para muitos, envelhecer seja visto como um processo que está associado à menor capacidade física e funcional e maiores gastos com a saúde. Para entendermos como esse estágio natural da vida humana pode acontecer de maneira mais saudável, precisamos antes compreender os fenômenos que acontecem no organismo durante o envelhecimento.
As estruturas do corpo humano são formadas por células. Alguns órgãos e tecidos têm uma capacidade bastante elevada de renovar as suas células, outros não. Não importa qual seja o caso, com o passar do tempo, todas as estruturas do organismo vão sofrendo alterações naturais que não necessariamente implicam em doenças. Chamamos isso de senescência. Se pensarmos no nosso organismo como uma máquina, conseguimos criar uma boa analogia: todas as partes de uma máquina vão se desgastando com o tempo. Algumas conseguimos trocar e renovar, outras não. Uma peça desgastada não pára de funcionar de uma hora para outra, mas perde sua eficiência. A questão é que todas elas têm um “prazo de validade”. E as nossas células - e consequentemente, nosso corpo - também. Alguns fatores de estilo de vida diminuem esse prazo, assim como também é possível aumentá-lo, mas não há um jeito de fazê-lo eterno.
Quando uma célula entra em processo de senescência, existe uma tendência que ela pare de multiplicar para evitar que possíveis defeitos que possam ter surgido com o passar do tempo sejam passados para futuras gerações de células, o que poderia causar o surgimento de doenças, como tumores. Mas mesmo assim, essas células continuam metabolicamente ativas e adquirem o que chamamos de fenótipo secretor associado à senescência, no qual começam a liberar cada vez mais compostos de característica inflamatória e que prejudicam o equilíbrio do organismo. Isso faz com que os órgãos e os tecidos, aos poucos, comecem a perder sua capacidade plena e é a partir daí que começam a surgir as doenças crônicas e outras condições patológicas características do envelhecimento.
E é exatamente nesse ponto que entram os senolíticos: compostos capazes de, seletivamente, eliminar células senescentes, atuando de maneira terapêutica sobre mecanismos que estão associados ao envelhecimento e, consequentemente, adiando o surgimento e reduzindo a severidade de condições crônicas.
Existem diferentes classes de senolíticos, que são classificadas de acordo com o mecanismo de ação de cada substância para exercer seu papel na redução das células senescentes. Atualmente, estão disponíveis vários compostos sintéticos que atuam em diferentes vias metabólicas proporcionando efeito senolítico. Mas o que me motivou a trazer esse conteúdo é o fato de que produtos naturais, como a curcumina, também possuem esse tipo de atuação. A fisetina é outro exemplo: flavonóide presente em uma série de frutas, vegetais e chás, além de senolítico também possui atividade antioxidante, anti inflamatória, anti carcinogênica, anti viral, anti bacteriana e neuroprotetora, potencializando ainda mais seus benefícios para o envelhecimento saudável.
Com o avanço do conhecimento acerca desse tipo de substância, percebeu-se que fazer a combinação de compostos senolíticos poderia aumentar seu potencial, devido a efeitos complementares e sinergísticos, ao mesmo tempo que seria possível diminuir as doses de cada um deles, reduzindo possíveis efeitos colaterais. Nessas combinações é comum encontrar um composto natural (como a quercetina e a piperlongumina) associado a um sintético.
O interessante é perceber que podemos, na nossa rotina, acrescentar fontes dos compostos naturais senolíticos e, dessa forma, prevenir a atuação das células senescentes que naturalmente existirão no organismo, promovendo um envelhecimento mais saudável e ativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Xu, M., Pirtskhalava, T., Farr, J. N., Weigand, B. M., Palmer, A. K., Weivoda, M. M., … Kirkland, J. L. (2018). Senolytics improve physical function and increase lifespan in old age. Nature Medicine, 24(8), 1246–1256. doi:10.1038/s41591-018-0092-9
Zhang, L., Pitcher, L. E., Prahalad, V., Niedernhofer, L. J., & Robbins, P. D. (2021). Recent advances in the discovery of senolytics. Mechanisms of ageing and development, 200, 111587. https://doi.org/10.1016/j.mad.2021.111587
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