Ao longo de, aproximadamente, 28 dias (um pouco menos ou até alguns dias a mais), as mulheres que não fazem uso de nenhum tipo de método hormonal experienciam o ciclo menstrual. E quando falo que elas experienciam, é porque durante esse período o corpo feminino passa por diferentes fases e uma mesma mulher é várias em uma só.
A partir de uma visão superficial, pode parecer que apenas o humor varia ao longo desse ciclo, mas na verdade todo o corpo funciona de maneira diferente dependendo da fase em que se encontra, inclusive a função intestinal muda também. Isso acontece porque nas células ao longo do intestino, existem receptores para os hormônios sexuais femininos, o que significa dizer que eles conseguem orquestrar, de alguma forma, o funcionamento desse órgão. Quanto maiores forem seus níveis em algum momento, maior vai ser a influência que vão ter sobre a função intestinal.
Para chegarmos ao ponto de entender como essa variação no funcionamento do intestino acontece, vamos aos poucos alinhando algumas ideias. Vamos dividir o ciclo em 3 momentos, que vou evitar colocar com um dia exato de início e fim porque, dependendo do tamanho do ciclo de cada mulher, isso pode variar.
A primeira fase que vamos considerar aqui será a fase folicular, começando no dia que acaba a menstruação e se estendendo até o período da ovulação. Nesse momento, em termos de hormônios sexuais femininos, o estrogênio vai aumentando progressivamente até alcançar um pico, quando estimula a ocorrência da ovulação e, logo em seguida, apresenta uma queda nos seus níveis. Nesse momento, as mulheres tendem a manter um padrão intestinal muito próximo do seu habitual. O estrogênio parece melhorar o tempo de trânsito, e nessa fase, mulheres que sofrem de condições intestinais inflamatórias podem sentir um controle de alguns sintomas, porque esse mesmo hormônio é capaz de alterar a nossa percepção de dor.
Assim que acontece a ovulação, inicia-se a fase lútea. O estrogênio volta a aumentar - mas não alcança os mesmos níveis da fase anterior - e quem comanda mesmo esse momento é a progesterona. Os efeitos que esse hormônio tem sobre a função do intestino são muito mais perceptíveis e respaldados na literatura. Aparentemente, o que a progesterona faz é lentificar o tempo de trânsito intestinal, o que acaba se traduzindo em constipação, sensação de empachamento e inchaço. Também podem aumentar os gases e a distensão abdominal.
De repente, o estrogênio e a progesterona sofrem uma queda abrupta e acontece a menstruação. Nesse momento, como não houve a fixação de um zigoto na parede do útero, a camada de endométrio que foi formada é expelida. Isso envolve a ocorrência de contrações na musculatura uterina (sabe a cólica? Então…). Para que isso aconteça, aumentam, no útero, os níveis de prostaglandinas, compostos com características inflamatórias. Nota-se um aumento similar dessas substâncias no intestino e é por isso que algumas mulheres experienciam dores abdominais e diarreias durante a menstruação.
Fez sentido por aí? O interessante é que alguns estudos mostram que manter um bom consumo de fibras, de maneira constante, pode ajudar a evitar uma redução muito brusca no trânsito intestinal (o que pode reduzir o quadro de constipação), e manter uma alimentação com caráter mais inflamatório tem o potencial de reduzir a produção de prostaglandinas, controlando as cólicas e diarreias.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Bharadwaj, S., Barber, M. D., Graff, L. A., & Shen, B. (2015). Symptomatology of irritable bowel syndrome and inflammatory bowel disease during the menstrual cycle. Gastroenterology Report, 3(3), 185–193. doi:10.1093/gastro/gov010
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