Se considerarmos o tempo de existência da ciência da nutrição, é relativamente recente o aumento do interesse no uso dos probióticos. Desde que os estudos na área ganharam força, vimos um verdadeiro boom na prescrição e no desejo das pessoas de usarem esse suplemento, que passou a ser a resposta para toda e qualquer coisa na cabeça de algumas pessoas. Mas vamos com calma: essa suplementação não deve ser vista como algo além da cereja do bolo! Sabe por quê? De nada adianta fazer o uso de probióticos se o ambiente intestinal for hostil. Vamos entender isso melhor a partir de alguns conceitos.
Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados na quantidade adequada, conferem benefícios de saúde ao hospedeiro, principalmente no que diz respeito à saúde intestinal, imunológica e metabólica. Por “microrganismos vivos” nos referimos a cepas de bactérias que podem colonizar o intestino, compondo a microbiota, e assim, exercer efeitos positivos na saúde. Mas para que isso aconteça, (e o próprio conceito já diz) é preciso ofertar a quantidade adequada, e definir qual cepa de bactéria faz mais sentido para o objetivo desejado, pois os benefícios são dose e cepa dependentes.
Mas antes de definir esses pontos, é necessário garantir que o intestino do hospedeiro não vai ser um ambiente hostil para esses novos moradores, e vai permitir que eles se proliferem e colonizem a região, para assim exercer os benefícios desejados. Se não for dessa maneira, a suplementação nada mais vai ser do que dinheiro jogado fora.
Dessa forma, antes de tudo, é preciso manejar a possível hostilidade do intestino. Se um indivíduo possui uma alimentação com elevado consumo de produtos ultraprocessados, açúcares simples, gorduras em excesso e poucas fibras e compostos bioativos, é muito provável que o uso de probióticos em si não vá ser capaz de alterar a composição e função da microbiota como desejado. As bactérias benéficas dos probióticos não terão substrato para se desenvolver e possivelmente perderão a briga para as patogênicas que já vivem ali. Esse mesmo quadro pode ser observado em indivíduos com obesidade e síndrome metabólica.
Os estudos nos mostram que fatores de estilo de vida como a dieta e o exercício são importantes reguladores da saúde intestinal. Indivíduos mais ativos tendem a apresentar maior abundância de espécies benéficas de bactérias na microbiota, além de um intestino mais íntegro. O padrão de alimentação é extremamente relevante para determinar o perfil bacteriano que prevalece, mas alterações agudas nos hábitos alimentares também afetam de forma importante a microbiota.
Por isso, primeiro de tudo, é preciso “organizar a casa” com aquilo que realmente gera uma base sólida: aumentar a oferta de fibras prebióticas, favorecer uma diminuição da inflamação, adequar o consumo dos 3 macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras - tanto em quantidade como em qualidade), realizar hidratação adequada, iniciar ou aumentar o nível de exercícios físicos na rotina e fazer práticas de manejo do estresse, pois tudo isso repercute positivamente no ambiente intestinal. Só depois de gerar um ambiente adequado é que faz sentido entrar com a suplementação de probióticos para colher os benefícios possíveis. A decoração do bolo só vem quando a base está bem montada, certo? O raciocínio para esse suplemento deve ser o mesmo!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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