O estado nutricional pode afetar todos os aspectos da saúde humana, incluindo o crescimento e desenvolvimento normais e a resposta imune contra doenças. A desnutrição é caracterizada por um desequilíbrio celular entre o suprimento de nutrientes e energia e as demandas das células do corpo, levando ao comprometimento da função do sistema imunológico, entre outras alterações.
Estudos recentes têm enfatizado o papel preponderante do estado nutricional do indivíduo em relação a sua resistência à infecções de modo geral. A desnutrição, especialmente em crianças e idosos, induz a um maior risco de morte por infecções comuns e aumenta sua frequência e gravidade, piorando a sua recuperação.
Apesar dos importantes avanços nas vacinas e na antibioticoterapia, as infecções respiratórias estão entre as principais causas de aumento da morbimortalidade em pessoas imunossuprimidas. Um exemplo claro disso está relacionado a pandemia por SARS-CoV-2, em que um sistema imunológico saudável é a forma mais importante contra esta e outras infecções associadas.
Há evidências recentes do uso de imunobióticos como suplementos dietéticos para aumentar a imunidade e resistência contra infecções em pessoas com quadro de desnutrição. A literatura mostra o potencial da administração oral de imunobióticos para modular de forma positiva a imunidade das vias aéreas, especialmente em modelo animal, mas também em estudos com humanos. Além disso, a administração nasal de imunobióticos tem sido proposta para induzir preferencialmente a imunidade sistêmica e, também estimular a mucosa respiratória, o que proporciona uma vantagem na proteção contra patógenos respiratórios. A maior eficácia do probiótico intranasal em relação à via oral pode ser devido à estimulação mais forte das células imunes das vias aéreas na cavidade nasal e no trato respiratório superior. No entanto, a administração intranasal de imunobióticos ainda é pouco compreendida e merece mais estudos.
É importante destacar que a administração de microrganismos viáveis pode implicar em risco à saúde de pacientes imunossuprimidos, por esse motivo, o uso de pós-bióticos pode ser uma alternativa interessante para estimular a imunidade nesses indivíduos. Nesse sentido, sabe-se que a resposta do hospedeiro a um imunobiótico depende da combinação das diferentes moléculas bacterianas que podem interagir com os diversos receptores nas células do hospedeiro. A parede celular, peptideoglicanos, exopolissacarídeos ou metabólitos secretados são as moléculas mais comuns derivadas de bactérias imunobióticas que estão associadas a efeitos imunomoduladores e seu impacto benéfico na saúde.
A suplementação com L. rhamnosus parece ser capaz de acelerar a melhora do número e da funcionalidade das células mieloides respiratórias, B e T. Esses tratamentos têm a capacidade de impactar o tecido linfóide associado à mucosa respiratória. A suplementação com esse imunobiótico ou seus pós-bióticos pode melhorar a resistência em um quadro de infecção respiratória e uma resposta imune inata e específica eficaz contra o patógeno.
As propriedades descritas para L. rhamnosus e seu peptideoglicano, um novo agente bioativo, sustentam a base científica para sua aplicação visando principalmente melhorar a resposta imune de indivíduos imunocomprometidos.
Não somente nos casos de infecções respiratórias, mas os imunobióticos parecem ter efeito interessante também nos casos de doenças inflamatórias intestinais (DIIs), incluindo colite ulcerativa e doença de Crohn. As DIIs são doenças inflamatórias crônicas caracterizadas por respostas imunes desreguladas do trato gastrointestinal. A resposta intestinal de proteínas anti-inflamatórias, como citocinas e enzimas, quando se suplementa Lactococcus lactis, parece regular a homeostase intestinal do hospedeiro. Além disso, a experiência clínica usando Lc secretora de interleucina 10. lactis demonstrou ser seguro e facilitar a contenção biológica na terapia de DII. Em âmbito pré-clínico também há estudos que demonstram que cepas de imunobióticos (cepas probióticas capazes de regular beneficamente a imunidade da mucosa) proporcionam efeitos benéficos na inflamação intestinal como resultado da sinergia entre os efeitos imunorreguladores da própria bactéria e seus efeitos anti-inflamatórios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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