Entre as mais prevalentes complicações ocorridas durante a gestação podemos citar, sem receio de errar, a diabetes gestacional, diagnosticada quando a primeira detecção de hiperglicemia é feita durante a gestação. É muito comum, ainda, que mulheres que apresentam essa condição sejam diagnosticadas com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) no futuro caso não sejam adotadas as medidas necessárias para impedir que o quadro de desregulação glicêmica prevaleça após a gestação.
Além de representar o aumento de uma série de riscos para a saúde da mãe e para o momento do parto em si, como a pré-eclâmpsia, quadros de infecção pós parto ou entrada prematura em trabalho de parto, a diabetes gestacional causa uma elevação na probabilidade do recém nascido vir ao mundo grande para sua idade gestacional (o que pode, ainda, ser uma complicação extra para o momento do parto), com malformações e até hiperinsulinemia neonatal, aumentando o risco que a criança desenvolva intolerância à glicose, DM2, síndrome metabólica e até mesmo diagnóstico de autismo ao decorrer de sua vida.
A disbiose intestinal é uma condição marcada pela perda da homeostase das bactérias que colonizam o intestino, com aumento daquelas consideradas patogênicas. Dessa forma, costuma estar associada ao desenvolvimento de várias doenças crônicas, especialmente pelo cenário pró inflamatório que se instala quando há tal desbalanço no ambiente intestinal. O aumento da concentração de lipopolissacarídeos na corrente sanguínea, um dos componentes da membrana de bactérias gram negativa, é um dos principais fatores que contribuem para o estado de inflamação crônica de baixo grau, considerado um fator com considerável impacto no desenvolvimento de resistência à insulina.
Na busca de correlações mais precisas da relação entre a disbiose intestinal e a diabetes gestacional, já foi hipotetizado que o desequilíbrio intestinal poderia ser uma causa da desregulação glicêmica. Tal fato baseia-se nas observações de que mudanças na microbiota intestinal no início da gestação poderiam predizer o risco de desenvolvimento da DG. Porém, os achados não são unânimes nesse sentido e alguns dados apontam para alterações nas bactérias intestinais apenas após o diagnóstico da diabetes gestacional.
Algumas das mudanças observadas na microbiota de mulheres que desenvolvem essa condição são: perda da diversidade, alterações a nível de filo (aumento da razão Firmicutes/Bacteroidetes, bastante associada com a obesidade) e de gêneros (com elevação de bactérias gram-negativa como Parabacteroides, Prevotella, Haemophilus e Desulfovibrio) e perda de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta, um metabólito bacteriano que exerce importante papel anti inflamatório. Todas essas alterações estão positivamente associadas com o agravamento do estado inflamatório no organismo - e, consequentemente, são capazes de piorar a resistência a insulina e os valores de hiperglicemia.
Nesse cenário, o aumento da sensibilidade à insulina é vital para controlar a situação, além de ser importante atuar sobre parâmetros de estresse oxidativo, que tendem a piorar a inflamação. Alguns estudos mostram que o uso de probióticos e simbióticos (união de probióticos com o substrato para as bactérias, chamados de prebióticos) podem ser um importante suporte no manejo desse cenário, mas mudanças de estilo de vida, especialmente no que diz respeito à alimentação (visto que a dieta é um dos principais reguladores da microbiota intestinal) são mais seguramente recomendadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Huang, L., Thonusin, C., Chattipakorn, N., & Chattipakorn, S. C. (2021). Impacts of gut microbiota on gestational diabetes mellitus: a comprehensive review. European Journal of Nutrition, 60(5), 2343–2360. doi:10.1007/s00394-021-02483-6
Ponzo, V., Fedele, D., Goitre, I., Leone, F., Lezo, A., Monzeglio, C., Finocchiaro, C., Ghigo, E., & Bo, S. (2019). Diet-Gut Microbiota Interactions and Gestational Diabetes Mellitus (GDM). Nutrients, 11(2), 330. https://doi.org/10.3390/nu11020330
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